A ti concedo o direito da decepção
e ver tuas maçãs perder o rubor para a apatia.
A seriedade na tua feição que até há pouco sorria
enquanto eu permanecia te olhando, calado.
Ver o brilho do teu olhar sumir devagarinho
e se desfazer olhando para qualquer outro ponto
que não os meus olhos firmes.
A ti concedo o direito de dizer que estava errada
em achar que eu valeria todo o esforço
que você investiu e investiria
se eu te dissesse sim.
Tudo que já havia sonhado,
cada história planejada ao meu lado
em um átimo
ruir por fim.
A ti concedo o direito desta fúria,
da mão fria que estrala contra meu rosto.
A força do teu descontento
em ter se entregado tanto.
E ouvir a tua boca pequena
para quem um dia fiz
meus mais belos poemas
repetir aos prantos: pobre de mim,
pobre de mim…
A ti concedo o direito do teu choro,
das mãos na cabeça
perguntando o que fez para merecer.
Encontrar comigo naquela tarde
e na noite entre gemidos se apaixonar
como jamais o fez por qualquer um.
A ti concedo todo
o direito de não entender a minha verdade.
Por não ser verdadeiro somente por vaidade
decidi não amar você.
Mas não te concedo este disparo,
ali, no chão, diante dos meus pés,
olhando-me fixamente
com um leve e desesperado sorriso.
Nem te concedo ir embora sem te explicar meus motivos.
A ti concedo a culpa da minha última carta.
E quem entrar neste quarto
não achará romântica a cena,
mas quem sabe assim eu te encontre
tomando seu cappuccino
e consiga seu perdão, Helena.